"Escuto meu pai do outro lado do telefone,
no cosmos, num céu com estrelas. É meu pai
constelado. Sua voz não envelhece, não lhe daria
setenta e três anos de idade quem o escutasse.
Eu espero que fale para não me sobrepor
ao eco mas espero me sobrepor. Meu pai espera,
creio eu, desde sempre, desde que me orientou
não lembro por quê: "é preciso saber se protelar",
também espera que eu fale para não se sobrepor a minha voz.
A espera é o fio condutor do diálogo, como antes
o silêncio."
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"Escucho a mi padre del otro lado del teléfono,
en el éter, en un cielo con estrellas. Es mi padre
constelado. Su voz no envejece, no le daría
setenta y tres años de edad quien lo escuchara.
Yo espero que hable para no sobreponerme
al eco pero espero sobreponerme. Mi padre espera,
según sé, desde siempre, desde que me advirtió
no recuerdo por qué motivo: "hay que saber postergarse",
también espera que yo hable para no sobreponerse a mi voz.
La espera es el hilo conductor del diálogo, como antes
el silencio."
de: Son de mi padre, 1996.
en: Manto, p.179.
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